Fundada com o objetivo de ser moderna e símbolo de progresso, a capital de Goiás completa seus 91 anos com crescimento e desafios urbanos
No dia 24 de outubro, Goiânia celebrou 91 anos de um legado histórico-simbólico valioso. Fundada em 1933, a partir de uma estratégia geopolítica de mudança da capital do estado, constituiu-se como um ponto de ocupação no Centro-Oeste brasileiro com o papel importante de representar a modernização da paisagem urbana do interior do país.
Criada dentro do espírito desenvolvimentista e projetada pelo Arquiteto Attílio Corrêa Lima, a cidade nasceu repleta de lições urbanísticas e edifícios em estilo Art Déco, que materializaram as mais recentes teorias de planejamento urbano e arquitetônico da época, reforçando a essência de um olhar voltado para o futuro.
Ao longo dos anos, a cidade apresentou inúmeros indicadores positivos que atraíram novos moradores das mais variadas regiões do país. Entre os títulos que carrega atualmente, está o de ser reconhecida como a segunda capital brasileira com a melhor qualidade de vida, conforme o Índice de Progresso Social (IPS) e também a segunda que mais cresceu no último ano, de acordo com o Índice de Atividade Econômica Regional – IBCR. Goiânia também é uma das “Cidades Árvore do Mundo”, título concedido pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO-ONU) por superar a taxa recomendada pela ONU em área verde por habitante.
Desafios
Contudo, vale lembrar que a cidade inicialmente planejada para abrigar 50.000 habitantes possui hoje uma população estimada de 1,49 milhão, isto é, quase trinta vezes mais do que a expectativa do plano inicial, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse crescimento acelerado, somado aos problemas de ordenamento urbano, tornou ainda mais expressivo os desafios urbanísticos e as lacunas sociais que se apresentam na cidade.
Apesar dos aparentes avanços, o morador goianiense enfrenta deficiências na mobilidade urbana, congestionamentos, falta de investimento na manutenção de seus espaços públicos e uma drenagem urbana ineficiente que agrava as condições das vias durante o período de chuvas. Além de uma falta de infraestrutura adequada que garanta acessibilidade, equidade e justiça social. Então, será de fato que Goiânia ainda reflete o pioneirismo e o ideal de cidade do futuro que a gerou?
Para a mestre em Projeto e Cidade e Coordenadora do curso de Arquitetura da Estácio, Polyana Franco, não basta manter o olhar para o futuro, é necessário mudar a maneira como se olha para ele. “É preciso compreender que na jornada rumo ao rol de ‘cidades do futuro’, apenas a inserção da inovação tecnológica no processo de gestão e planejamento da cidade ou a adoção de algumas práticas consideradas sustentáveis não são suficientes para sanar os gargalos presentes nas estruturas urbanas”, afirma. Para a professora, é preciso que as prioridades sejam revistas e que a cidade seja desenhada para todos, para além do ponto de vista econômico, incorporando o aspecto humano e restabelecendo o vínculo perdido entre o meio urbano e suas áreas verdes e córregos, utilizando o território com mais eficiência.
Polyana complementa que a solução de muitos dos desses problemas passa pela observação do caminho que outras cidades fizeram para evitar repetir os mesmos erros. “É preciso recalcular a rota, dar um passo atrás para conseguirmos dar dois passos para a frente. É assim que se trilha o bom e velho caminho do planejamento urbano que parece ter sido desaprendido nas terras do pequi”, destaca.
Um grande primeiro passo, diz, seria transformar em potenciais de riqueza e desenvolvimento, os nossos 80 córregos, quatro ribeirões e um rio, o Meia Ponte, que passam despercebidos e invisíveis aos habitantes e gestores da cidade, integrando-os à vida econômica, social e urbana da cidade, a exemplo de Paris – capital que inspirou o planejamento original de Goiânia – e Londres, na Inglaterra.
“Ao celebrarmos mais um aniversário, temos a oportunidade de refletir novamente sobre a cidade que queremos, lembrando que cidades preparadas para o futuro precisam ser resilientes, seguras e capazes de gerar espaços adaptáveis, com acesso à moradia digna e oportunidades de emprego”, declara.