Grupo de imigrantes bolivianas cria coletivo de costureiras e lança coleção inspirada em suas raízes andinas

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Um grupo de imigrantes bolivianas, todas costureiras, criou o coletivo Sartasiñani, termo que em aymara – etnia à qual elas pertencem – significa “levante-se!”. A iniciativa tem como principal objetivo a união de forças para superarem conjuntamente as condições precárias de trabalho e de renda, dentro do conceito de negócio de impacto social. E no dia 20 de outubro, às 18 horas, o grupo irá festejar sua primeira grande conquista, com o lançamento de uma coleção de roupas inspiradas na cultura ancestral andina, tanto na modelagem quanto nas cores e estampas.

Elas saíram da Bolívia em diferentes épocas e o destino de todas foi a cidade de São Paulo, mais precisamente o bairro da Casa Verde Alta, onde passaram a trabalhar como costureiras. Além do país de origem, compartilhavam outras conexões: a falta de familiaridade com o idioma, a informalidade no trabalho – o que lhes impedia o acesso às leis trabalhistas –, a necessidade de cumprirem longas jornadas e a baixa remuneração, que mal lhes permitia arcar com as contas mensais.

O projeto motivou o apoio entusiasmado de diversas instituições que fazem parte do Colabora Moda Sustentável. O Instituto Ecoar para a Cidadania foi a entidade âncora que viabilizou repasses financeiros, cuidou da administração e introduziu no projeto a dimensão da economia circular. O Instituto C&A disponibilizou recursos para capacitação das costureiras. A seção brasileira da Alampyme – Associação Latino-americana de Micro, Pequena e Média Empresa – incorporou-se ativamente e seu presidente, Sergio Miletto, passou a integrar, ao lado da Nancy Guarachi, ativa integrante do Sartasiñani, a coordenação do projeto.

Para Nina Braga, do Conselho do Instituto-E, organização que também apoia a iniciativa, “este coletivo é um exemplo para outros grupos de costureiras por conta de ter reunido mulheres guerreiras que enfrentaram muitas situações adversas, a começar pela sua condição de imigrantes, para conquistar um espaço próprio que lhes possibilitou transformar suas vidas. Sua resiliência, criatividade e empoderamento são inspiradores”.

A primeira coleção

“Nossas roupas têm história”, resume Nancy, ao ser indagada sobre o principal diferencial das peças que fazem parte da coleção. E para transformar a história em tramas, estampas e modelagens, o coletivo contou com uma parceria fundamental: a Ewa Poranga, escola de moda intercultural. Em todas as etapas, o processo de criação foi conjunto e participativo. Por se tratar de um projeto-piloto, o caminho se fez ao andar. Ou como ilustra Sergio Miletto, “trabalhamos no modo aranha, que vive do que tece”. A participação das mulheres do coletivo – que hoje conta também com um homem e com a esposa brasileira de um imigrante boliviano – sempre foi estimulada e suas decisões, respeitadas. Uma das preocupações era evitar uma postura paternalista. A última palavra sobre os conceitos, as criações e os caminhos a serem percorridos sempre foi delas.

Depois de várias reuniões com as costureiras e de muitas pesquisas, definiram as silhuetas que deveriam ser confeccionadas. As modelagens foram feitas para que tanto mulheres quanto homens pudessem vestir qualquer peça e as estampas carregam o colorido característico dos povos andinos. Em cada etapa da confecção, desde a escolha dos fornecedores ao acabamento das peças, perseguiu-se o mais alto padrão de qualidade. “Queremos que as pessoas comprem nossos produtos por serem peças desejadas e não para sentirem que estão colaborando com um trabalho de impacto social”, destaca Sergio Miletto.

Todo o processo de implantação do coletivo e desenvolvimento da coleção está sendo documentado, pois um dos objetivos desse projeto-piloto é sua reaplicação em outros territórios e segmentos, de acordo com o perfil de seus integrantes e as características do mercado em que se situar. Afinal, o Coletivo Sartasiñani é um exemplo concreto de que é possível construir melhores condições de trabalho e de renda por meio de uma ação conjunta e planejada, em que o lucro seja dividido entre quem trabalha, excluindo a figura do intermediário, que muitas vezes retém a maior parte dos ganhos. 

Fotos divulgação

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