Os becos de Veneza, na Região do Vêneto, no Mar Adriático, guardam muito mais que história. Andar por aquele emaranhado de vielas, depois de aprender a se situar em meio aos prédios antigos e canais, é começar a conhecer a fundo o que de melhor a cidade tem a oferecer
Texto e Fotos Rimene Amaral
Em cada esquina tem uma plaquinha que indica as direções de pontos-chave da cidade e são elas que nos salvam de ficar perdidos num verdadeiro labirinto. A primeira vez que estive em Veneza conheci um restaurante por acaso. A cidade estava cheia, os restaurantes idem, e eu me enveredei pelos becos à procura de um lugar mais tranquilo para uma boa massa e um vinho, longe da multidão, que se empurrava pelas lojas de Murano* e de máscaras, que estão por toda parte, assim como as lojas das maiores grifes italianas.
As descobertas foram muitas, mas acabei por escolher um cantinho especial: Trattoria Da Gioia, na Calle dei Fabbri, 1016 – chegando pela Piazza San Marco, entra pela galeria do relógio e vira à esquerda na primeira viela. O local é pequeno, de propriedade de um feliz senhor que, à época, tomava conta de tudo apenas com a ajuda da filha e de dois funcionários. O lugar é discreto, aconchegante, o cardápio não é extenso, mas o que tem para ser servido é, sem dúvida, feito com muito esmero, técnica, sabor e, é claro, com a alma. Já sabemos que comida na Itália é coisa de vida e morte.
O cardápio era uma espécie de pasta com várias folhas cuidadosamente costuradas. Tudo manuscrito! Achei de um bom gosto e de um cuidado gigantescos. E se estamos na Itália, vamos de massa. Depois de passear por toda a carta, de A a Z, me decidi por um Talharim com Salmão Defumado. A entrada era um pratinho com bruschettas, cuidadosamente preparadas a partir da escolha do cliente: caprese, sardela e rúcula baby, cogumelo picante e parma com parmesão derretido e manteiga de sálvia. O senhor de barbas brancas me sugeriu um rosé da casa. Pediu que o rapaz no balcão trouxesse uma taça para que eu experimentasse.“Aprovadíssimo!”, respondi sorrindo.
Enquanto eu aguardava a jarra com o vinho, a moça sorridente, filha do proprietário do restaurante, colocou uma pequena mesa com rodinhas ao lado de onde eu estava. Em instantes, chegaram os utensílios e os ingredientes. Foi quando descobri que a massa seria preparada ali do lado. E eu iria aprender como fazer.
Enquanto me perdia nos sabores mais variados das bruschettas e do vinho da casa, Genaro preparava o prato e conversava muito. Pedi para que ele me explicasse como o prato era feito, o que ele fez rapidamente, e qual era o segredo das bruschettas. “Pão bem feito e ingredientes de qualidade”, disse num tom de voz que poderia ser ouvido na rua.
E, diante disso, a majestade desta história passa a ser a bruschetta. Não que o talharim não fosse o melhor que já comi (e foi!), mas a bruschetta mereceu minha atenção. Já voltei lá para comer a mesma massa e indiquei para amigos que estiveram lá. E a bruschetta sempre é enaltecida. Costumo dizer que tenho um restaurante em Veneza pra chamar de meu.
Bruschettas… elas são sucesso em quaisquer situações: um convescote com amigos, um encontro a dois, um churrasco, uma festa mais refinada… elas cabem! E são sempre fáceis de fazer. Outra vantagem é que as bruschettas podem ter o recheio que quiser. Como frisou Genaro, se o pão for bom a qualidade é garantida. A foto é da mesma bruschetta de Veneza, de cogumelos refogados, mas com toque pessoal.
*Murano: Embora descrita como uma ilha da lagoa de Veneza, é um arquipélago de sete ilhas menores, das quais duas são artificiais (Sacca Serenella e Sacca San Mattia), unidas entre si por pontes. Tem aproximadamente 5500 habitantes e fica a somente a 1 km do centro de Veneza. Murano é um local famoso pelas obras em vidro de Murano, particularmente objetos decorativos e candeeiros.
Os ingredientes
10 cogumelos Paris fatiados
1 cebola picadinha
2 dentes de alho picadinhos
1 pão ciabatta em duas bandas
3 bolas de muçarela de búfala
Pimenta calabresa
Salsa picadinha
Tomatinhos cereja
Azeite
Sal
Fiz assim
Um fio generosíssimo de azeite na frigideira. Quando estiver quente coloque o alho picadinho. Espere dourar e coloque a cebola. Murchou a cebola, acrescente os cogumelos picados, a pimenta calabresa e o sal. Refogue por cinco minutos. Apague o fogo e jogue a salsa picadinha. Reserve. Enquanto isso, passe azeite nas duas bandas do pão e toste por três minutos de cada lado na frigideira quente. Coloque a muçarela esmigalhada no pão e, por cima, uma quantidade generosa do cogumelo refogado. Fio de azeite e 10 minutos de forno quente. Tomatinhos partidos para finalizar. É claro que um vinho acompanha muito bem. Rosé ou branco, frutado, perfumado e com acidez na medida. E mangiamo e beviamo…