Lançada nesta quarta, 10 de janeiro, no Aparecida Shopping, às 14h, a exposição é itinerante, já passou por diversas cidades brasileiras e chega à Goiás pela primeira vez
A arte como instrumento de comunicação, denúncia e cura. A artista plástica Mirian Arceno Rocha catarinense traz para Aparecida de Goiânia a exposição itinerante “Arte que Denuncia, Combate e Previne”, uma exposição impactante composta por 14 obras em óleo sobre tela. A mostra de caráter inédito em Goiás integra a programação do Festival Rhema, de arte cristã, e será apresentada no Aparecida Shopping nesta quarta-feira, 14h.
O objetivo principal da exposição é, por meio das artes plásticas, sensibilizar e conscientizar o público sobre o abuso sexual que, infelizmente, pode acontecer em qualquer casa, independente de posição social, religião ou lugar onde se vive. As telas da exposição são uma representação real de relatos de vítimas de casos de abusos sexual e doméstico, além da dramatização dos crimes sofridos pela própria artista e seu marido Oziel Rocha durante a infância.
Além de conscientizar a sociedade, o projeto busca encorajar as vítimas a denunciar tais abusos e procurar apoio psicológico e terapêutico, usando a arte como instrumento de cura. O projeto já percorreu diversas cidades brasileiras e da América Latina, incluindo a Argentina. A exposição fica aberta ao público no shopping até o dia 13 de janeiro.
Autodidata, Mirian já pinta há 30 anos, mas em 2019 se sentiu inspirada a pintar sobre o tema, inspirada no abuso sexual que viveu aos 8 anos. E também seu marido, viveu a mesma situação aos 11 anos. Ela e o esposo trabalharam durante oito anos ouvindo relatos de vítimas de abusos e violência doméstica, o que também inspirou todo o processo de pintura poética. “Os relatos me inspiraram a produzir as telas. Para encorajar as vítimas a falarem sobre o assunto tanto no sentido de denunciar o agressor quanto para ajudar em seu processo de cura”, diz.
A exposição não tem fins lucrativos, os quadros não são comercializados. “A exposição é itinerante, as pessoas passam por ali e recebem a informação, o que desperta gatilhos. “Já recebi inúmeros testemunhos de pessoas, como de uma senhora que, aos 60 anos, nunca havia falado sobre o abuso que sofrera, e se sentiu impulsionada a falar pela primeira vez sobre o assunto. É libertador. A arte tem o poder de comunicar sem palavras.”
Mírian ressalta que que o processo de recuperação do ser humano começa quando ele consegue expor toda a dor sofrida no ato dos abusos para outras pessoas. Ela e o próprio marido só contaram um ao outro sobre os abusos depois de anos de casamento. Hoje, além da exposição, eles fazem palestras de sensibilização Brasil afora.
Oziel Rocha, marido de Mirian, conta que demorou quase 40 anos para relatar o seu caso de abuso que sofreu aos 11 anos de idade. “Eu contei o meu caso em uma terapia e recebi a cura das minhas emoções e dos traumas que o fato me causou. Até o momento da cura eu era uma pessoa fechada, tímida e jamais falaria sobre o caso com qualquer pessoa. O falar da situação traz muita cura pra gente. A minha história pode encorajar mais meninos a falarem sobre o assunto e a trazer a tona esse tipo de situação”, explica. Durante a exposição, Mírian, que também é escritora, fará o pré-lançamento do livro “O Rio que Flui em Mim”.