Apelidados de a “Chapada de Piri”, os Povoados de Capela do Rio do Peixe e de Lagolândia, por exemplo, movimentam entorno da região central de Pirenópolis e promovem o desenvolvimento local dos vilarejos
Pirenópolis é rica por sua história, cultura e natureza. Já se tornou referência turística no Estado e é conhecida nacionalmente por causa de novelas e filmes gravados na cidade. Contudo, seus arredores também têm opções para serem exploradas e, aos poucos, estão sendo descobertas pelos turistas. Os povoados de Capela do Rio do Peixe e de Lagolândia, ambos distritos do município, que ficam cerca de 40 km distante do centro histórico, por exemplo, estão atraindo visitantes.
O comerciante Renato Gomes de Abadia, que mora em Capela há 41 anos, conta que a época de maior movimentação do povoado é durante a Romaria de Sant’Anna, realizada todos os anos entre 17 e 26 de julho. “Dizemos que aqui é um termômetro para a Romaria do Muquém (outra celebração religiosa, em Niquelândia, no norte goiano). Assim como lá, as famílias vêm e ficam acampadas durante a festa, que movimenta bastante o comércio local. Ficam acampadas de duas a três mil pessoas e o público flutuante da festividade varia entre seis e oito mil pessoas”, conta.
Além desta época, Renato destaca que percebeu um aumento do turismo no povoado há três anos, com pessoas interessadas em aproveitar as atrações naturais que circundam o local, como o Rio Caxiri, a Cachoeira Veredas e o Sítio Novo, fazenda onde viveram Zezé di Camargo e Luciano e onde foram gravadas cenas do filme “Os dois filhos de Francisco”. Ele, que possui um mercado com lanchonete em Capela, percebe que agora o povoado possui também mais casas para aluguel de temporada pela plataforma Airbnb, o que estimula a economia da região.
Tranquilidade
Uma das pessoas que atuam nesse ramo é Danielle Lopes, que possui seis imóveis para locação em temporada, o qual aluga há dois anos, cinco em Capela do Rio do Peixe, os quais aluga há cerca de um ano, e três em Lagolândia, onde atua há sete meses. Ela conta que 90% das pessoas que alugam seus imóveis são famílias e cita, ainda, a tranquilidade como motivo da escolha pelos distritos.
“Eles procuram um lugar de tranquilidade, mais contato com a natureza e querem fugir um pouco do movimento de Pirenópolis, daquele maior fluxo de turista, tanto no centro histórico como nos atrativos. Eles não deixam de passar por Pirenópolis, geralmente na vinda ou na saída, mas procuram realmente a paz e essa experiência cultural de passear e conversar com as pessoas que moram nos povoados, ter essa troca, essa experiência e ter a tranquilidade da zona rural”, detalha.
Danielle acredita no potencial dos povoados, tanto pela natureza, como atrativo natural, quanto pela parte histórica e cultural que também é explorada. “Tanto Lagolândia, como Capela, tem um gigante potencial turístico. Nós estamos próximos a grandes atrativos. A gente está a aproximadamente 9 km da entrada do Roteiro das Cachoeiras Cristalinas, é até mais perto que o centro de Pirenópolis. E esse roteiro tem bastante atrativos, como a Cachoeira dos Dragões, o Balneário Carranca, a Cachoeira do Rosário. Estamos há cerca de 30 km do Lago Azul e aqui no povoado a gente tem a Cachoeira Veredas. Lagolândia tem uma forte tradição cultural também pelo legado da Santa Dica”, destaca ela.
Santa Dica
A historiadora e escritora Waldete Aparecido Rezende conta que a história de Lagolândia se funde com a de Benedita Cipriano Gomes, que viria a ser conhecida como Santa Dica. “A região era formada por pequenos sítios, havia vários lagos e os boiadeiros costumavam pernoitar no local. Benedita foi morar com os avós em um desses sítios aos 2 anos e, logo depois, começaram as curas feitas por ela. A notícia se espalhou através dos boiadeiros, e começou a peregrinação de pessoas para o local. Assim, surgiu o povoado”, resume.
Waldete revela que Lagolândia chegou a ser emancipada na década de 1960, mas apenas por alguns anos, pois, pela falta de estrutura, voltou a ser distrito de Pirenópolis. Ela lembra que a Festa do Doce é a época de maior movimento no povoado. “É uma festa religiosa em homenagem ao Divino Pai Eterno, Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. São nove dias da novena e no último inicia a Festa do Doce, que segue por mais dois dias. Ela acontece no terceiro final de semana de julho, logo após o término da Romaria de Trindade. O distrito fica bem movimentado, principalmente com turistas de Goiânia e Brasília”.
A historiadora lembra que antes da pandemia havia excursões de estudantes para Lagolândia para aprenderem a história de Santa Dica e da região. “Era um movimento razoável e vinham alunos do ensino fundamental, de cursos técnicos e de faculdades”, diz. Contudo, Waldete conta que no ano passado houve uma enchente do Rio do Peixe, que inundou 30 casas no distrito, incluindo o casarão onde a médium fazia as curas e que funcionava como uma espécie de casa de memória.
Rezende destaca que a comunidade tem projetos para resguardar a história do local, mas destaca a necessidade de mais apoio do poder público. “O rio passa nos fundos do casarão. É a segunda vez que ele é inundado e a cada vez perdemos um pouco das coisas de Santa Dica, que também tem sua contribuição histórica. Gostaríamos de fazer uma espécie de museu, assim como existe o de Cora Coralina na cidade de Goiás, mas falta incentivo do poder público em todas as esferas. Após a última enchente só limparam o distrito, não auxiliaram nem com a casa dela e nem com as outras”, lamenta. Até o momento a comunidade se organiza para fazer rifas para tentar reconstruir o local.
Ela também informou que existe a ideia de fazer uma feira de artesanato e gastronomia no local, o que poderia ser uma válvula de escape do alto fluxo Pirenópolis, porém mais recursos seriam necessários.
Para o líder regional da comunidade Airbnb, Neylon Jacob, é importante investir em políticas públicas voltadas para o desenvolvimento do turismo sustentável nestas regiões. Ele destaca que existe um novo comportamento do público adepto às hospedagens de veraneio que buscam áreas mais afastadas dos centros urbanos. “Além da curiosidade de vivenciar a experiência proporcionada em áreas afastadas dos centros urbanos, boa parte busca reconfigurar seu estilo de vida por meio da imersão na natureza, desacelerar e se adequar ao ritmo do ambiente. As pessoas estão cada vez mais coesas às ideias de sustentabilidade e à valorização dos aspectos culturais de cada região”, observa, reforçando que no último ano houve um aumento na procura por hospedagens e experiências, mais afastadas dos centros urbanos.