Devido à situação em que se encontram e os julgamentos sofridos pela filha e demais familiares do homem morto pelo ex-genro em uma farmácia podem desencadear quadros de depressão, transtorno de ansiedade, síndrome do pânico ou outros transtornos psicológicos, afirma a psicóloga Jordana Ribeiro
Dados da Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO) apontam que no primeiro trimestre de 2022 foram registrados 2.624 casos de mulheres vítimas de agressão e 3.841 foram ameaçadas no âmbito da violência doméstica. Grande parte dessas violências são causadas pelo companheiro das vítimas e pode resultar na morte delas ou de familiares.
Esse foi o caso que aconteceu na última segunda-feira (27), quando Felipe Gabriel Jardim invadiu a farmácia onde o ex-sogro trabalhava e efetuou disparos contra ele após descobrir que foi denunciado por ameaçar a ex-namorada, filha do homem que faleceu em um hospital de Goiânia.
Em entrevistas aos veículos de comunicação, a ex-namorada de Felipe contou que no início do relacionamento, ele mostrava ser um homem carinhoso e gentil, mas, meses depois, demonstrou um lado abusivo e agressivo ao ponto de colocar uma arma apontada para a cabeça da mulher e fazer ameaças de morte contra a sua família.
Após expor que vivenciava um relacionamento abusivo, cujo desfecho foi a morte do pai e a prisão do ex-namorado, a mulher recebeu duras críticas nas redes sociais sobre os motivos de ter se mantido nessa situação. A psicóloga Jordana Ribeiro explica que as mudanças de comportamento dos agressores são sutis e, em alguns casos, romantizadas, o que dificulta a saída das mulheres deste tipo de relacionamento.
“O agressor não é o tempo inteiro agressivo ou ruim. Ele começa com comportamentos sutis que, às vezes, é romantizado com uma tendência de que é amor, é um cuidado porque ele está com ciúmes. Começa a manipular redes sociais, ler mensagens, mandar nas roupas que a mulher veste ou no que ela fala. São comportamentos que alteram a identidade da mulher. A partir do momento em que ela deixa de ser ela já é um abuso e, geralmente, essas mulheres estão em extrema vulnerabilidade ou dependência emocional, com uma autoestima baixa e a esperança de que ele vai mudar”, explica Jordana.
Outro agravante nessa situação foi o julgamento que a mulher sofreu nos comentários de publicações sobre o caso nas redes sociais. Entre as alegações, os internautas afirmavam que ela poderia ter evitado a morte do pai caso não tivesse prosseguido com o relacionamento com Felipe Gabriel. Julgamentos como este, segundo a psicóloga, podem desencadear transtornos psicológicos para a mulher que já passa por um sofrimento.
Esse sofrimento se estende aos familiares, que revelaram ter dificuldades para dormir devido a um estresse pós-traumático que desenvolveram após o crime. A psicóloga conta que esse tipo de estresse é causado pelo momento de tensão que deixa o corpo em alerta e aumenta a produção de cortisol, hormônio do estresse.
“Não é momento de levantar o dedo, apontar e julgar. Precisamos acolher essa vítima e essa família com muito amor e empatia. Ela já está com a sensação de ser a culpada e ainda recebe julgamentos da sociedade, é totalmente desumano. Tanto ela
quanto os demais membros da família estão propícios a desenvolver quadros de depressão, transtorno de ansiedade, síndrome do pânico ou outros transtornos psicológicos. É um momento de resguardar essa família para que esses possíveis quadros não se perpetuem. Eles vão precisar de apoio psicólogo para se reerguerem”, afirma a psicóloga.
“Qualquer um de nós está vulnerável a isso. Se a pessoa não tem um trabalho bem feito com a autoestima dela, um acompanhamento psicológico, um fortalecimento emocional, ela está sujeita a uma relação abusiva. É importante que cada um olhe para si e perceba quais são os aspectos emocionais e psicológicos que precisam trabalhar internamente”, complementa a psicóloga Jordana Ribeiro.